TRACCE no. 10 – by Rodrigo Aguiar
A conclusão do levantamento de arte rupestre (part *) na Ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes (Brasil).
A ilha de Santa Catarina em sua extensão tem praias arenosas separadas por pontais rochosos e diques de diabásio, onde ocorrem os petroglifos.
A ilha de Santa Catarina em sua extensão tem praias arenosas separadas por pontais rochosos e diques de diabásio, onde ocorrem os petroglifos. Em suas adjacências, acompanhando a linha externa que fica de frente para o Oceano Atlântico, temos diversas ilhas menores, algumas das quais apresentando sítios de arte rupestre e habitação.
A Ilha de Santa Catarina está localizada no litoral sul do Brasil, no estado que recebe o mesmo nome. Suas coordenadas são 27º22’49’’ de latitude sul e 48º21’05’’ de longitude oeste. Possui 55km de extensão por 18 km de maior largura.
A pesquisa
Este levantamento é resultado de uma pesquisa de 4 anos, desenvolvida sem qualquer tipo de financiamento. Esta pesquisa foi apresentada à Universidade Federal de Santa Catarina como Tese de Conclusão de Curso em História.
Para melhor entender o contexto no qual a arte rupestre estava inserida, levantou-se todo material bibliográfico disponível sobre as populações pré-históricas da região. Pouco material foi publicado sobre o assunto, assim como poucos foram os estudos feitos na região, o que dificulta bastante esta contextualização da pré-história da Ilha de Santa Catarina.
Quando nos referimos a caçadores e coletores, felizmente ainda temos as pesquisas realizadas por João Alfredo Rohr nos sítios arqueológicos da Praia do Pântano do Sul (1977), Armação do, Praia Grande (1962), Rio Tavares e Ressacada (1959); juntamente aparece a pesquisa de Anamaria Beck no sambaqui de Ponta das Almas(1972).
Referente à tradição itararé, aparecem os sítios da Base Aérea (1958) e Praia a Tapera, escavados por Rohr; e Rio Lessa, escavado por Beck (1972).
Relativo à tradição guarani, só há a escavação realizada por Walter Piazza (1965), no sítio arqueológico do Rio Tavares; e o restante são apenas coletas de superfície.
Caçadores e Coletores
Trata-se da tradição mais antiga que se tem vestígio na região, com os primeiros sinais de ocupação (até o presente momento) à 4.500 AP (Rohr, 1977). Foram os construtores dos sambaquis (ver artigo em TRACCE 4) e por isso denominados algumas vezes de sambaquianos.
Eram indivíduos pré-ceramistas (porém, em alguns casos faziam potes de barro não cozido para estocagem) e praticavam pinturas corporais, segundo evidências arqueológicas encontradas nos esqueletos de sepultamentos desta tradição (Rohr, 1962), geralmente corante vermelho. Estes sepultamentos poderiam ser fletidos, semi-fletidos ou estendidos, carregando na maioria das vezes alguma espécie de mobiliário funerário (machados, seixos, colares de dentes ou vértebras, pontas de flecha, entre outros (Rohr, 1958; Schmitz, 1992).
Com a indústria de cal, que se aproveitava das conchas dos sambaquis, grande parte destes sítios arqueológicos foram completamente arrasados
Os Itararé
Eram ceramistas que viviam da caça e coleta, cogitando-se a possibilidade de serem horticultores. Sua cerâmica era rudimentar e sem decoração, a cor varia do pardacento escuro a preto e tinha caráter exclusivamente utilitário, aplicada no preparo e consumo de alimentosSomente dois sítios foram datados: Praia da Tapera (800 AP) e Base Aérea (1140 AP). Escolhiam geralmente a planície das areias da praia para montar suas aldeias, mas as vezes reocupavam sambaquis de caçadores e coletores.
Assim como os caçadores e coletores os itararé também praticavam pintura corporal, constatada pela presença de pigmento vermelho em esqueletos sepultados (Beck, 1972). Estes sepultamentos muitas vezes estão dispostos em semi-círculos ou segmentos de círculos, o que sugere a prática de cemitérios domiciliares (Silva, 1988).
Os Guarani (carijó)
É o índio que teve contato com o europeu colonizador. Na Ilha de Santa Catarina eram conhecidos por carijó. Cultivavam a mandioca e o cará, explorando paralelamente a caça, pesca e coleta.
A cerâmica possuía um papel importante nas comunidades guarani, sendo utilizada tanto no preparo e estocagem de alimentos, como para fins rituais, sendo que o mais famoso é o enterramento nas igaçabas (urnas funerárias). As decorações utilizadas são a corrugada, ungulada e pintada. Schmitz (1959) acredita que a cerâmica pintada era utilizada para fins mais nobres do que a corrugada. As evidências etno-históricas indicam que os guarani também praticavam a pintura corporal (Metraux, 1948).
Com a chegada do homem branco, os carijó, assim como a maioria dos índios do estado e do Brasil, caminharam gradativamente para a extinção.
A Arte Rupestre
A arte rupestre da Ilha de Santa Catarina e áreas adjacentes nunca foi profundamente estudada, o que tornou esta uma pesquisa inédita, cujo principal objetivo era levantar e catalogar todos os símbolos que fossem encontrados na região.
Do norte ao sul do Brasil, constata-se a existência de uma infinidade de sítios de arte rupestre, geralmente apresentanto muitas particularidades de região para região, resultando muitas vezes em estilos totalmente opostos.
No caso da Ilha de Santa Catarina e adjacências, o que temos são exclusivamente petroglifos, não aparecendo pinturas rupestres. Foram obtidos através de polimento ou picoteamento, aparecendo em alguns casos o vestígio das duas técnicas, indicando que em determinadas situações a inscrição era previamente preparada por picoteamento, para finalmente receber o acabamento final através do polimento. Este picoteamento era obtida pela percussão e o polimento pela abrasão de um instrumento de pedra sobre a rocha suporte (sempre o diabásio).
Para catalogar a arte rupestre, utilizou-se de fotografias, tracings – relevo de contato, método criado e desenvolvido pela Footsteps of Mam – (Arcà & Fossati, 1997), croquis e fichas de campo como técnicas de registro.
(English)
(to be continued in next TRACCE issue)
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